domingo, 18 de abril de 2010

Amarga


Tanto tempo, tanto tempo.

Eu olho para os meus dedos e eles são finos e flácidos, meu rosto, antes viçoso, agora está enrugado feito fruta velha. Eu estico os lábios, quem sabe um sorriso devolva um pouco da vida que me foi roubada? Mas é uma tentativa falha, não há nada além de uma boca esticada. De meus olhos fugira todo o brilho e restou apenas o cansaço.

Lastimoso para mim é olhar no espelho e ver, ao invés da bela jovem de outrora, uma casca desgastada.

Foram-se os encantos, os amores, a diversão, a beleza, as festas, a bajulação, a bebedeira, foi-se a juventude e com ela a vida.

Quem diria que um dia eu, que fora tão alegre, ficaria tão amarga, passando os dias a resmungar de tudo, detestando o mundo e a vida.

Vez por outra a morte bate a minha porta, mas eu me escondo, finjo que não estou, pois, por mais que abomine esta existência temo mais que tudo fenecer e, por instinto, minha alma se prende ao corpo se recusando a sair.

E então eu permaneço aqui, rabugenta e senil, vendo a vida esvanecer de pouco em pouco.

Um comentário:

  1. Ficou na minha boca esse gosto amargo de sentir na sua escrita um pouco de mim também...
    Às vezes, é duro olhar para trás. Às vezes, é mais duro ainda olhar para o espelho. Tento manter em mente, hoje, que o desgaste, a velhice e a amargura das más experiências quase sempre passam da alma para o corpo, não o contrário.
    Faço votos de que mantenha sua alma cheia de juventude, cheia de disposição para ver a beleza e nenhum medo de errar de novo!
    Beijão.

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